É engraçado como a naturalidade nunca segue os passos da necessidade.
Ambas estão sempre a percorrerem caminhos distintos. A naturalidade não
chega quando se deseja algo de forma intensa. Só surge na distância dos
motivos, na amnésia do ser, na ausência da presença. É como se a alma
descobrisse que desaparecer é sempre uma boa maneira de renascer para o
nada. A naturalidade fica sempre a esperar o segundo em que de tudo
esqueceremos e completaremos o ser com um estado único, sereno. Lado a
lado com a eternidade. Sem necessidade de gestos, motivos ou palavras.
Somente o olhar esquecido na paisagem em sentidos de alvorada. A
naturalidade se revela bem perto da essência. No nascimento de ser mais o
muito do que não se é. Pois se somos uma metade que é vida, também
somos outra que nada é. Ainda.
É melhor demonstrar com
naturalidade um defeito que talvez seja insignificante; / se o esconderes, parecerá maior.
-- Marcial